sábado, 16 de agosto de 2014

Relato

















                  Para Roberta e Zuleica Nascimento

Com a lamparina fraca,
eu reviro o mundo atrás do roxo
e, na margem das águas que são mortalhas,
caço a menina afogada que nunca se soube.

Caço a tarde ruidosa em balbúrdia
e o fogo juvenil de uma alegria súbita.
No rio, passeando com namorados,
estavam duas moças na tarde de um sábado,
e decidiram explorar uma ilha ignota.
Quando mal se esperava,
pulou a menina mais corajosa
e imediatamente afundou,
talvez com o corpo todo em ramagens,
talvez com o fôlego morto em fuligem,
talvez na câimbra aberta em vagem,
talvez no chupão sugador que dizem.
Atrás dela foram os namorados,
foram as milícias,
foram as lágrimas,
foram os soldados,
foram muitas flores,
foram muitos sábados.
E ficou para sempre
uma saudade roxa
de pinhão-roxo,
de quaresmeira,
que nem toda erva-cidreira
foi capaz de apagar a menina
que sumiu no rio para virar sereia.


.

2 comentários:

  1. Rapaz, que poema fantastic, bispo.
    gostei tanto... mas tanto....
    vou sugerir lá no Facebook.

    beijão,

    r.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que você gostou, mano. Esta história é real. Tentei convertê-la em poema. Trágico o sumiço da Roberta Nascimento que aqui tem o destino do encantamento. Abração.

      Excluir

Reverbere!