quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Curtume
















Na beira do rio há um bambuzal verde e amarelo.
Os pés fincados no barro se comunicam com as estrelas.
A água do fundo, sorrateira, circula e evapora.
Ali, nunca se usou chinelo.

As lavadeiras batem roupas nas pedras
e se revezam seminuas, em festa.
O vento cheira a detergente e sabão de coco,
e voam marrecas fantasiadas em anjos toscos.

No chumaço das nuvens de chumbo está a felicidade.
Está o sentido de um tempo em que se reverberam
as cordas bambas da saudade.

O vento sacode o vulto denso das roupas.
Os morcegos espanejam suas asas
e chiam algum sentido no manguezal
do sal na noite compacta.

Fechou-se mais uma etapa monótona da ata.
No cheiro dos corpos que dormem,
evapora-se a noite no sereno da madrugada.

Em cada casa, cada palavra foi uma esmola
e fez uma história de vida.
Deixa um cheiro de pólvora na existência sofrida
de mais um dia que foi embora.


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