Quando eu canto,
a boca aberta é um diafragma
que abre e fecha.
Pisca a luz em sanfona
e me derrama pela fresta.
Pela boca o mundo declama
e abre o decote do vestido
para outro mundo que mama
com fome de recém-nascido.
E meu corpo velho de alma,
esquartejado e repartido,
entrega-se à fauna
que anseia o que digo.
Mas o mundo em palavra
é fogo redivivo
que acende e se espalha
do velho adormecido
E dentro dos outros
estou comigo
catando seus tesouros
e me fazendo de trigo.
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