sábado, 27 de fevereiro de 2016

Lira














Na vila de Marília existia uma casa
em que a moça casadoira sonhava.

Punha-se à tardinha, ansiosa na sacada,
a esperar um cavaleiro que passava.

Era o tempo inteiro nos tecidos e bordados
mesmo antes de um noivo encomendado.

E aquele moço tão faceiro e assenhorado
logo, logo, se tornara o seu amado.

Vinha toda tarde bem postado em seu cavalo
e passava bem em frente ao sobrado.

Ela suspirava e a noite despencava
o travesseiro no desejo que gozava.

Vinha o seu amado murmurando em seu ouvido
e ela sentido tudo quanto era arrepio.

E ele foi vivendo na lembrança do desejo
enquanto ela imaginava aquele cheiro.

E depois de anos, quando velha, debruçada,
ainda sentia aquele homem que amara.



.

.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Persona





















Músculo suado e rijo 
de cavalo selvagem,
sufocas meu prazer 
em ver a paisagem.
Apertas meu pescoço 
até que o ar,
extinguindo-se num sopro,
já não possa respirar.
Gargalhas de modo 
horroroso porque lá,
dentro do infinito poço,
está minha imagem
preservada em orgulho 
e vaidade.
Quer deixar-se lá, 
cômoda e inocente,
porque é melhor 
não saber do lixo.
Não saber aonde 
realmente existo
tranqüilo e impassível 
num oceano de egoísmo.


.
.