sábado, 27 de julho de 2013

CANTIGA






A arte de arrematar fagulhas é meu objeto de estudo
porque o poente lúcido, apesar do escuro, ainda canta.
Pesquiso então os dias de chuva,
o cinza estendido, o movimento insólito do bólido,
e o que encontro é só esperança.

Estico a mão além do limite
porque por mais que eu tire
há sempre algo a alcançar.
Calibro, então, o grau proibido
e contrato galos arrombando manhãs.
Em cada caixa há desistências vãs
pois que  cada dia e seu segredo devem ser objeto de desejo.

Eu canto porque o incrível está escondido no intangível
assim como joio no trigo ou o ouro no cascalho.
Investir no extraordinário sob qualquer risco
é minha obrigação mesmo que num mar de ilusão
esteja náufraga a receita salvadora,
a miragem redentora, que abraçará meu coração.


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terça-feira, 23 de julho de 2013

LUMINESCÊNCIA






















vagalume
vaga sozinho
na amplidão
tem na lanterna
o coração

vaga longe,
vaga fundo
velejando
muitos mundos

vega longe
vaga perto
porque o mundo
é deserto

avenida
muito longa
é a vida
onde a sombra
é uma ida

lume solto
pulsa e some
nunca diz
o seu nome

lume claro
aparece
onde chega
minha prece:

Que a saúde seja sempre
o meu melhor presente!


...

sábado, 6 de julho de 2013

Cântico











Um pombo pousou em meu ombro
em forma de sopro e não houve assombro.
Um pombo com jeito de sombra que vive
nos altiplanos rasgou o meu silêncio
e fez a colina clarear meus escombros.

A noite nova, de lua nova, relampejou
sua treva nervosa deixando à mostra
uma ferida  insepulta em formato de rosa.
Era a minha pergunta
que nunca tivera resposta.

Da vertigem, desci à origem
e a asa misteriosa - em nada secreta -
fez da enxurrada perplexa, magnética,
um vagido de virgem
abrindo caminho
para o horizonte azul-marinho.

E a manhã forçou seu pouso no escuro
para a palavra final que procuro
A poesia é isso: um esforço colaborativo
nas instalações elétricas para dar voz às pedras.


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