No pasto, as louras flores de camomila,
E na terra, os afazeres das formigas,
Dão-se reinados para seus olhos
Que no mundo vagueiam incólumes
Porque o mundo guarda-se imaculado
Nas gavetas de tesouros inviolados
Onde o cego nunca saberá por certo
A real vastidão do seu deserto.
Ao norte, esquivando-se das bússolas,
Passeia ele em formosuras.
Não guarda ofensa miúda
E contenta-se com o perder-se na rua.
Em noite púrpura que a tudo encobre,
Agasalha sapos e gafanhotos nobres
Que haver-se-ão empossados,
Cada qual em seu mandato.
Nem antes e nem depois, mas no ponto,
Na reta onde está o encontro
Para as cortesias e os acidentes,
Vai o doido cismando silente.
Em bandeirolas murmura ao vento
Os recados que são inventos
E ouve o som das assembleias
Lá do alto das camélias.
Nas vértebras de cristais quebrados
Moram épicas do que foi sonhado
E as lutas de tantas tertúlias
Marcaram sua carne em fúria.
No relâmpago viaja e anda
Ou nas estrelas que cintilam.
O chão duro é sua cama
E tem uns olhos que imaginam:
“Uma vez, tive família,
Mas, perdendo minha filha,
Visitei a insanidade
E encontrei felicidade
Neste paraíso achado,
Onde sigo encantado
De imagens e poesia,
Não me importo mais com os dias.”
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