No sol
vespertino, um homem ofegante e com
a face em sulcos,
goteja cavando a rua.
Busca tesouros
escondidos debaixo do asfalto.
Ali mesmo, debaixo
de onde correm os fluxos,
onde se esconde
o esgoto e descansam as marcas
da história recente
da superfície.
Faz isso porque
hoje, tudo é petróleo,
corpo frio, inerte e oculto.
corpo frio, inerte e oculto.
Longe dos
olhares,
deitadas no leito abaixo por onde trafega
deitadas no leito abaixo por onde trafega
a vida, as
marcas permanecem ali,
no subterrâneo esquecido.
no subterrâneo esquecido.
A tarde desgasta
o homem calejado pelas intempéries
e o fulcro de
sua vida ignora o luto velho da rua
pela paisagem
antiga que dorme numa sepultura.
Em cima dela não
há flores nem cruzes.
Por ela caminham
mulheres com crianças de colo,
bicicletas
deslizantes, automóveis intermitentes.
A mão do homem é
grossa e, mesmo assim, sangra.
Faz de seu
flagelo um buraco enorme
a buscar a manilha principal.
a buscar a manilha principal.
Ali descansam as
sombras,
os dias e as noites que se foram.
os dias e as noites que se foram.
No subsolo, o
líquido percorre labirintos de água de beber
e flerta com outras
vias por
onde trafegam os esgotos domésticos.
onde trafegam os esgotos domésticos.
A copa das
árvores ventila o homem em seu universo,
que ganha todos
os dias o seu pão dessa maneira.
Ele leva para
casa o ouro apenas ao final de cada mês.
É um salário
mínimo,
retrato ínfimo do que achou
retrato ínfimo do que achou
no lugar onde
jazia oculta a história
insignificante de outros homens.
insignificante de outros homens.
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