sexta-feira, 28 de abril de 2017

Grito















O abuso da força é fraqueza
O abuso do belo é a feiura
O abuso do rico é a pobreza
O abuso do lodo é loucura
O abuso da empáfia é a derrota
O abuso da água é asa branca
O abuso da lei é a revolta
O abuso da voz fere a garganta

O abuso do samba perde o passo
O abuso do saco é o vazio
O abuso do frio é o descampado
O abuso do lago é o estio
O abuso da posse é a miséria
O abuso da cerca é o limite
O abuso do quente é a Sibéria
O abuso do orgulho é o humilde

O abuso da falha é um sismo
O abuso da mágoa é o veneno
O abuso da joia é o granito
O abuso da forma é o escaleno
O abuso da páscoa é o Egito
O abuso da estrela é um nada
O abuso da raiva é um cisto
O abuso da safra é vaca magra

O abuso da santa é hipocrisia
O abuso do som é a surdez
O abuso do ego é antipatia
O abuso da capa é a nudez
O abuso da seca é tempestade
O abuso da chave é o rochedo
O abuso do todo é a metade
O abuso do crime é o degredo

O abuso da fase é sobrecarga
O abuso do guia é a escuridão
O abuso do doce é sem a casca
O abuso do raio é o trovão
O abuso do brilho é o escondido
O abuso da posse é sem a mão
O abuso da bolha é estar no chão
O abuso do pão é sem o trigo
  
O abuso da onda é a secura
O abuso da copa é a raiz
O abuso da mesa é a penúria
O abuso do cheiro é sem nariz
O abuso da crença é a ausência
O abuso do aço é o quebradiço
O abuso da fé é a inclemência
O abuso da calma é um grito.


.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Candonga















Candonga mexerica fica, fica,
fazendo narrativa todo dia
das coisas que acontecem mundo afora,
da nuvem que vagueia sobre a aldeia
no telejornalismo dito e escrito.

No corpo da notícia que importa
há sempre um interesse de cartola
e o dedo gerencia o que cita
e o que se silencia ou se esconde
aonde alguma fala não responde.

E assim a mexerica candongueira
engana com seu cheiro maquilado
do que se vê vazado na peneira
pra quem se acomoda confortável
em seu sofá de sala, escutando
o que a TV lhe conta sobre o dia
das coisas de Brasília e do Senado,
da fala teatral do deputado
que na ideologia se afirma
o grande herói da pátria flagelada,
mas povo não é égua, não é bobo,
e sente o cheiro falso da mentira
e faz da rua a casa em que habita
na força que desmente a mexerica.



.