sexta-feira, 24 de julho de 2015

Um nome na areia














O céu dentro de si é um pássaro calado,
observando o espaço vago.
Dia desses, quando for chamado,
haverá de bater asas do alto
e de avizinhar-se bem próximo de nós,
que escrevemos na areia o estatuto do Amor
na  pretensão de que a palavra
sobreviva às borrascas
e às tempestades nunca esperadas.
É desta forma que eu escrevo na areia
a minha verdade máxima
que não é exclusiva ou inédita:
amar, amar e amar até anular
a força das reações intrépidas.

Essa minha voz é polifônica
porque canta ao lado da boa-vontade agônica
daqueles que pastoreiam o lume
da noite e anseiam o mundo diferente,
numa delicadeza mais abrangente.

Meu testemunho na areia é meu testamento
em amizade familiar com o vento,
que conhece o caminho de sal dos oceanos
e o alívio para os desenganos.
Escrevo sozinho para esse sopro,
que remove o pó com carinho
numa espiral dançante
e o conduz aos reinos beligerantes
em que a paz esperada
no clarão da madrugada
é o íntimo pedido de um coração aflito.
Chegue lá longe onde nem sei,
a minha esperança em forma de palavra sussurrante
na caverna dos ouvidos
e ela não será minha, mas nossa.
Nós, que cantamos o mesmo coro,
que falamos a mesma língua,
que comungamos o mesmo princípio do Amor sem nome,
sem dono, sem bossa,
depositado na areia para viajar no vento e na cheia
até os longínquos destinos a que possa.




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