domingo, 8 de dezembro de 2019

Intangível porto
















A cada momento 
descartamos a carne,
essa temporária imagem,
e o momento se vai,
mesmo que sutilmente,
dissolvido na bruma ambiente da memória
que hora se alegra, 
mas, também, chora
para seguir a um lugar distante,
intangível porto que se põe avante
onde haverá sempre outro mar,
esse estanque repouso de vivências
guardadas no embornal dos errantes.
O que se foi guardado fica,
tesouro que na alma habita
disponível a visitas.
Viagem em linha reta,
às vezes oblíqua,
vamos todos carregando canções,
todas gravadas em corações
com tudo o que tivemos e temos.
O passado nunca fica ausente
apesar de novas miragens
que se abrem à frente.
A graça de viver recolhe, coleciona, 
acaricia carinhosamente
as joias que tal e qual
um sopro imortal
moram dentro da gente..




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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Canção de amar






















Sal, castiçal do astro rei numa nau
Pra quem se vai no adeus vertical
É um balão de São João a subir
Numas alturas de nuvens a vir
Toda manhã novamente a brilhar
Sol no lençol de uma frase no mar
Diz que alguém que se foi vai voltar
Numa alegria ao mesmo lugar
No horizonte dos montes e vãos
Todas palavras que levam balões
Sempre revelam algumas lições
Feitas de amores e de corações.


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domingo, 23 de junho de 2019

Rola-mundo















Na onda tudo é certo
no seu jeito inexplicável.
Na onda da lagoa não
há monstro abominável.
Na onda a argamassa
enche a casa habitável.
Na onda o trabalho
não é bem valorizável.
Na onda a borboleta
é lagarta na beleza.
Na onda o tempo passa
com a sua sutileza.
Na onda a rebeldia
não aceita a imposição.
Na onda do satélite
a comunicação.
Na onda a maré
se avoluma e se encolhe.
Na onda do balão, é o gás
que faz com que ele sobe.
Na onda a galáxia
se expande e se move.
Na onda o rico trata
com desdém o lixo pobre.
Na onda o futuro,
mesmo quando planejado,
reserva uma surpresa
no detalhe impensado.
Na onda o diamante
toma a forma de uma joia.
Na onda o vento dança
e depois a chuva molha.
Na onda o mistério
abre a porta ao turista
Na onda a noite longa
tece a trama de uma pista.
Na onda da visita
numa regra a moda dita,
mas na velocidade 
tudo é tarde, nada fica.
Na onda a alma segue
pela estrada do infinito.
Na onda a estrela sonha
o início de outro ciclo.
Na onda que chacoalha
no ouvido o seu guizo
No sono não se ouve
o alerta para um risco.


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