sábado, 8 de junho de 2013
Fotossíntese
Para Karla Nascimento
Quando avistei você,
preparei-me em gestações de cor,
formiguei-me em gols de garrincha,
tornei-me um balão suspenso em furores.
Desde que enxerguei você
eu me enchi de luz,
meu amontoado se desenlaçou
e passei a fraudar palavras de namorado
em poemas e canções alheias.
Você chegou assim bem na horinha
com o seu guindaste, suas flores de hipocampos,
suas lambretas de mar em fraternidades de poesia.
Chegou tornando-me todo hidrelétrico em desejo,
imprevidente nas imensidades e ilhéu em rumores.
Agora, as frases amorosas também se libertaram dos frascos
hermeticamente fechados e se encheram de ar.
Desde que lhe avistei
eu entrei em estado de fotossíntese
e minhas fortificações se dissolveram.
Agora, a infantaria das palavras já não mais se esconde
para que eu diga-lhe o meu amor com inchaço nos olhos
e as resistências em frangalhos.
Os sentimentos fósseis tornaram-se sódio iluminado
e passei a pulsar fosforescências de rapaz
que há muito buscava a sua paz.
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sábado, 1 de junho de 2013
Pequena roda
Amor por dentro,
Saudade que chora.
Campo e tempo em carta:
As lojas do rio em flor.
O motor da pedra
Girando a folhagem nobre.
Morreu um menino n’água.
Foi banhar-se depois da escola,
Foi reinar na água barrenta.
Noites longas. Soluço de mãe.
O menino sumiu num chupão.
Ao terceiro dia ressurgiu dos peixes.
Subiu ao céu num roxo balão
E, de uniforme azul e branco,
Pousou-se anjo nas mãos de Deus.
Cá na terra, os olhos dele viraram abóbora
no cemitério Santa Rita.
Trança rama, trança flor
rodeando cerca e se espraiando.
Na feira, procuram os olhos do menino o paladar
De outros meninos - em flor.
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