quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Parlenda



Lírio do brejo
vem limpar meu olho
vem me dar um sopro
para eu ver beleza

na cachoeira
que penteia as pedras
e murmura aquela
melodia e letra.

A Natureza
que circunda a gente
é aquela mesma
que avoluma a cesta

do alimento que faz
correnteza
ao cantar a vida
posta sobre a mesa.

E tudo dado
ao seu próprio gosto
não é por acaso
e não é atoa.

Coincidência
é o que foi tratado
bem lá no passado
na conversa boa.

E o esquecimento
é um véu delgado
não imaginado
quando a tristeza

faz a moradia,
habitando o átrio,
mas a tal beleza
é medicamento,

é um colírio
feito aquele lírio,
é um passarinho
feito um curativo.

no olho amargo
desesperançado
onde o milagre
se transforma em trigo.

E a alegria
vem dançar divina
nesse mundo vivo
de contentamento.

Simplicidade
não é só vontade.
É o exercício
de um olhar sereno

buscando a essência
nas pequenas coisas
não observadas
em sua aparência.

Vamos cantando
Vamos avançando
e vamos vencendo
numa volta e meia!

Salve o orvalho
numa flor miúda.
Salve toda lua
que se faz brejeira.

Que o ordinário
em seu relicário
no seu benfazejo
velho realejo.

Se desabroche
a quem quer que seja
e logo se aloje
nas almas faceiras. 



.









A mão que estende













As bananeiras na beira da estrada
oferecem cachos de banana maçã,
marmelo, ouro e prata
que poderão pertencer a quem passa
tendo à mão um facão ou faca.

Aquele que lavrou a terra,
utilizando a enxada
da mesma forma que a caneta
lavra a palavra
será de todo esquecido
e o seu cultivo não será lembrado
quando o cacho de bananas for subtraído.

O mandiocal evoluído
onde não há cerca
nem limite que se queira,
poderá ser invadido
por qualquer indivíduo
que assim deseja
e o labor do sujeito oculto
que na lavoura é um vulto
será detalhe desconsiderado
na avidez vantajosa do furto.

E assim, a atitude do ladrão
em pequenas coisas
ajuda a formar a moral doida
cujos valores éticos,
na chaga profunda,
não encontra antisséptico.




.