quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Pedra da Lua

















Lua, mulher, menina,
Com teu clarão me ensinas
Um rumo na noite
Um prumo sereno
Por onde vão meus passos
Sempre descalços
Nem sempre cansados
Nem sempre terrenos
Extraindo amor das pedras,
Abrindo em dias os medos,
Oh, lua dos meus segredos,
Derrama clarão em mim!

Tua luz é alimento,
É trilha dentro do tempo,
É música no coração.

E um coração encantado
Pode encantar o mundo,
Pode descer no fundo
Sem se apagar.

O coração de quem canta
É mais que uma garganta,
É luz da lua santa,
É estrela que abraça o mar.

Lua, mulher bendita,
Clareia a minha vida
Para que outros escuros
Eu possa iluminar.


* musicado pelo compositor Elizeu Gabriel


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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Templário



















Foi-se aquele tempo em Constantinopla
Precipitando na fogueira minha Cruzada ambiciosa
E foi-se, naturalmente, cada relíquia que se dizia única.
Salvaguardado de todas as riquezas
Restou-me somente esta túnica
E é nela que em palavras me calo,
Vez em quando, e outras vezes canto
Tão franciscanamente que ninguém me escuta.


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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Árvores e Telhados






















No luar em círculo - a inscrição das águas do rio.
Do rio à nuvem - a natureza em seu estilo.
Mas, fitá-la em seu esplendor e de modo discreto
requer a remoção do azinhavre dos mistérios.

Pois quem espia a fechadura busca 
a imagem além da curva.
Busca um cortejo de palavras ocultas
porque palavras, ainda que palavras,
não dizem muita coisa
quando apagadas nuvens escondem o luar atrás da moita,
quando a aurora radiosa boicota o seu rosa,
quando o olhar espichado não alcança o telhado.

Segue-se então a rota perigosa da curva
recolhendo seus cheiros e gasturas
justificadas pela fome de lua.

Mas onde está a lua?
Está gozosa e aberta na suburbana noite.
Está corcunda e enrugada no crepom metropolitano
e, sobretudo, agasalha-se nas árvores escuras.
Naquelas em que o mistério é um proclama,
naquelas em que a palpitação da vida raiou-se soberana.


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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Marinha


















Eu e o oceano somos irmãos.
Encontrei-o aos dezessete anos no Espírito Santo
e vazamos unidos rodovia acima,
caminho inverso da multidão.
Desde então, eu sigo incomportado de sal e rapsódias.

Quando sinto a língua crepitando seu fogo,
estendo bandeiras e velas e sangro como
quem quer redimir o mundo.
Neste ínfimo instante, eu e os heróis
da minha falange, aparecemos com rosas,
farpas, balas e curas nas mãos.

Mas nem sempre foi assim.
Era costume meu ver a vida da janela
até que um dia veio um vento flauteando
uma canção e eu dancei
como nunca dançara antes.
Aprendi a chover a cada nuvem desfeita.

Porque navegar é humanamente urgente,
preciso falar do amor para este
que me espera em meus sapatos.
Preciso cantar o mar que se infiltra
no coração das gentes.


Publicado no livro “Povoado”, 2006,
Editora Scortecci – São Paulo


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