quarta-feira, 17 de junho de 2015

Natureza Real













                                           Para Edileila Portes

Aquela mulher que vive no rio
com o corpo escamado em vidrilhos
e mãos magras de domingo,
deita-se rainha ao meu pasmo de menino.
Cada vez que move-se lânguida e solta
no espartilho de lantejoulas,
balança as pétalas de lambaris,
penteia o cabelo de colonião,
sustenta um silêncio de peixe, e ri.
E quando ri dentro do silêncio,
olha-me com olhos fixos de vento
e me revela que existo seco
além de tudo o que é barrento.
Que além dos ossos existo assim
esvoaçante feito um lenço
a navegar espaços recônditos
e lúcidos nos sonhos
abertos do horizonte imenso.
Que o espírito, em seu vagar científico,
é quem vive de fato a natureza real
muito bem camuflada pela razão animal
mas, apesar de oculta,
totalmente absoluta e espiritual.



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