terça-feira, 26 de agosto de 2014

A caverna


















Olhando para dentro da caverna
é como se me houvesse um anestésico.
Tenho os olhos pesados
de clarões e tempestades.

Tenho a alma em tapeçaria ardendo seus fogos,
mas esses não são perigosos.
Os da caverna são fogos mínimos de fósforos.
A todo instante, o disfarçado cesto de vexame
está nas mãos de um figurante que não se sabe
em vertigem fulminante.

Esconde-se do verdadeiro clarão
que está estendido lá fora.
Clarão que é faca e foice,
folha e lâmina ofuscante,
porque é fogueira de cozinhar os miolos.

Na sombra abundante e fria, a caverna é
a minha ilha, a minha quinquilharia,
meu confortável aconchego de degredo,
meu sono profundo, a minha privação do medo.

Mas é lá fora que existe a minha saudade que chora.
A minha atenção além dessa frincha de luz
vai muito além de um raio escapado na parede.
Raio pintado num quadro onde o Norte
orienta-se nos lamaçais de Van Gogh.


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