sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Luminária





















Na luminária da sala está desenhada a ave
parada em sua plenitude libertária.
As correntes estáticas aprisionam
a sua lucidez espantosa na Arte
e as nuvens cremosas deixavam-se trespassar
por um golpe de luz feito mártir.

A fome dos micróbios pelas aves estagnadas
não se faz de rogada naquele céu precário,
de cenário e poente enfeitado,
onde não se pode voar com os pés descalços.

Ali, com muito custo,
pousa-se e canta-se baixinho nos galhos,
o caco da vida se robustece a custa de pesados fardos,
e a gentileza extraordinária convida outros pássaros
com sua voz de máquina para muitos entusiasmos.

Em nossa vida ordinária há também uma guerra
a ser vencida no leito de palha:
uma guerra que fará viúvas as nossas astúcias
de um céu que manda aves e fogo-fátuo que desmaia.

Na unção dos que vão estão registradas as semanas espigadas.
Está essa miséria acesa em carvão de pedra
e a vontade pungente de realizar muitas quimeras.
Está o sol caindo em cheio na cerca de arame
na expectativa indigente de alguém que ame.
Estão as asas paradas dos pássaros numa alegria estranha
e a plataforma quente numa tarde breve em chá de pitanga.



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