quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Essencial

                 















                            Para Karla Nascimento

Não te enganes, minha flor!
O verdadeiro amor é para ser dito.
É para ser expresso de peito aberto e
indefinidamente ao infinito.

No que se faz essencial,
deverá ser preservado
em forma de arrepio numa ponte
na coluna cervical
e ser sempre ser anunciado assim,
exponencialmente, todos os dias:
amor, amor, amor e amor.

O verdadeiro amor sempre será digno
do seu lugar de signo e, amoroso,
decantar o que lhe torna tão precioso:
nuvens, flores e bem-aventuranças do paraíso.

No que tem de volume,
deverá subir ao cume
da montanha mais alta
e revelar, na distância de um tiro
em que o estampido ressoe num grito
aos quatro cantos, o quanto vale dizer eu te amo.
O quanto é importante essa insanidade
e o tanto que não deve fazer efeito o analgésico
para essa felicidade que dói no gozo
e para a qual não se quer nenhum remédio.

No que tem de lembrança, deverei lembrar-me
de quando sonhei viajar por onde nunca estivera e
agora, sentado mudo numa cadeira velha,
posso, agudo, embarcar em confiança
na composição de uma odisseia.
Posso, enfim, ser herói e rodar a esmo numa caravela
no lapso de um segundo num suspiro fundo,
e dissolver dragões em novas quimeras.

No que tem de alegria,
posso dizer que na amplidão de um salão,
esse amor é o armazém arrombado onde se vaga
sempre familiarizado com as menores coisas.
É onde se perderam as velhas misérias
para inaugurar a estação em que as folhas põem-se moças.
Num lugarejo ermo, dentro do peito,
esse rasgo de liberdade tem a força vadia
do grito noturno da jovem raposa.

E é nesse fluxo contínuo de menino,
meu amor, que eu digo indefinidamente que te amo
e ando colecionando todos os dias aves e pios
como quem desce o rio e, após
muito esperar, pegou o longo fio de um sonho
e costurou o cobertor no calor
dessa febre chamada de amar.



* Parabéns, minha flor! 28/08/2014
.

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