segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pendores
















Se hoje mais tarde, ao descerrar
a cortina, o espetáculo
não for o que se imagina,
que as mãos dadas apitem a urgência
em pulmão de cigarra e o sol, em espigas,
coloque as expectativas 
dos nervos em desmantelos
na devida proporção da calma.

Se hoje escurecer mais cedo,
que a luz esclarecida e dissipadora de monstros
leve para longe os medos.
Que as mãos unidas, nas nuvens errantes
durante a noite vacilante,
orientem a estação da vida.

Que o auxílio se torne uma arma no exílio
e faça outro desfecho na manhã de flamboaiã.
Que no lugar das queixas nasçam roseiras
e o otimismo seja a grande bandeira.

Se fizermos isso, o nosso egoísmo
não será mais um andarilho
cuja lamparina ilumina o trilho enaltecido
a buscar na vaidade o próprio brilho.
Faremos desse auxílio 
nossa maior virtude nos empecilhos
e nos demoraremos o máximo possível
em conversas adoráveis ao pé da fogueira,
ouvindo o cantar dos grilos no luar amolecido.
O nosso coração, que vivia então só,
não poderá negar que a solidão
de sua constituição de pó
é uma rosa talentosa repleta de pendores,
cuja vocação amorosa é a de se elevar
na superação de suas dores.
.

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Reverbere!