sábado, 27 de setembro de 2014

Enquanto o Sol vem vindo














Enquanto o Sol vem vindo,
a razão viaja dentro do instinto
e os lambaris bocarra,
em cardumes de mica e vidrilhos,
reluzem seus brilhos no fundo da tarrafa.

Enquanto o Sol vem vindo,
vai-se aos poucos a névoa sumindo.
A noite havia sido longa
mas, por haver aquecido a esperança,
os brilhos rasgaram a escuridão incerta
e a novidade arremessou sua flecha.
Agora, a razão descoberta
não está mais no fundo do espelho.
A sua mão construtora de devaneios,
escapa da trivialidade exata
e vai edificar trilhas nas escarpas,
onde não se concebia andar
e nem buscar tesouros ocultos
que fossem tão evidentes e que neles
guardasse um susto na revelação displicente
de haverem estado tão próximos
e de não serem desvendados
enquanto estivéramos sóbrios.

Enquanto o Sol vem vindo,
o instinto da pérola, em seu brinco,
reluz na saliência da parede
e vaza o seu mar incontido em nossa sede.
Mas o mar do globo da pérola é puro sal.
Então, salta de seu ventre a água doce
como se fosse uma visita ilustre,
e a razão surge no esmalte de um bule
porque ela já se havia na luz da cozinha,
apenas não era observada.
Estava em sua forma intacta
e aguardava a chance vagarosa e iluminada
de depositar uma rosa em nossa tarrafa
onde rebrilhavam os tesouros revelados
e o cardume prateado dos lambaris bocarra.

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