sábado, 13 de setembro de 2014

Fetiche





















Engalfinhados em disputa
no espaço das árduas lutas,
a vítima e o algoz medem força
em papéis representados.
No lugar onde há flores bíblicas,
uma chuva cíclica em fagulhas
enobrece a partícula da culpa
e agasalha a vítima em seu quarto,
onde a crença no que lhe é destinado
na forma de um martírio  
há de introduzi-la em delírio
ao seu lugar sagrado.

O algoz ergue-se sanguíneo
e gira a potestade em torvelinho
pois é sempre dele a última palavra.
Faminto, ele afia em vigor os dentes
para impingir dor àquele que
de sua adaga se faz descrente.
Mas mal sabe ele nesse esforço
que por trás do seu rosto de colosso,
em extremosa e fraca pobreza,
muito além de toda a violência
esconde-se  a insegura impotência.

Cala-se a vítima e grita o algoz.
Cada qual em sua conquista,
em seu território particular organiza
como irá ressoar a sua voz.
Mas na inconsciência do ofício
é extensa a planície desse vício
onde sempre haverá uma luta feroz
pois, no gozo de cada lugar tomado,
é apenas um papel representado
de onde e do que seremos nós
para quando seremos a vítima
ou de quando somos o algoz.



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