quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Folia

                   
         













                 
                Para Tavares Dias (13/09/2014)


Hoje à noite eu vou convidar alguém
para seguir a estrela bela e libertar de uma cela
o menino divino em algum ponto do mundo.

Num sonho sonhado junto, eu serei
um cavaleiro cigano muito disposto
em algum perímetro urbano,
sem nuvem no rosto, facas de cobre ou fandangos,
numa andança feita dentro do meu próprio corpo.

E em alguma tenda modorrenta da vida,
anunciarei a Boa Nova ao som de viola com fita,
na viva voz de uma folia a ser cantada
em quintais amargos, que necessitem
vir a ser penteados com algo que seja bonito.

E o menino ressurgirá no abraço esticado
de um cipó-sino, a todos unindo
em nome do fim do egoísmo.
A astúcia do veneno vingativo
será anulada com a música e a força das palavras.
Dentro deste êxtase, será docilmente incensado
o sagrado azeite e se firmará um diálogo mútuo
entre os povos contra a vigilância arguta,
que distrai no insípido a ferradura surda
que troteia no oco absoluto a paz que clareia.

Nesse fado tecido, haverá nova montaria
numa nova barra do dia, a ser amanhecido
com enfeite festonê para a esperança e o deleite
na arte do bem viver.

Então as dores haverão de ser neutralizadas
numa grande febre de malária
em que a multidão haverá de se lembrar
num esturro esquisito das coisas que são importantes.
Neste instante, deitaremos na grama do quarador
e vasculharemos a toalha milenar e celestial
em seu fulgor, no manancial de curar
aquilo que quase sempre nos esquecemos de lembrar.

No átrio cáustico da alma em sabão em pó,
haverá de se instalar um sapo boi socó
a bater no estribo no ouvido em ritmo de milico
a marcha sem descanso e de um só estribilho:

Não há motivo para o pranto
quando zune o acalanto
um, dois, um, dois, um, dois, um, dois!
(estribilho)

E vem assim esse sagrado de um céu tão cintilado
onde vive um menino vigilante nas estrelas
infinitas de beleza na ternura imaculado.


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