domingo, 7 de setembro de 2014

Ao pé da porteira















Debaixo do ipê solitário, bem na porteira,
o hálito quente do vento fez da tristeza
um redemoinho de saci e trouxe a alegria no
anúncio do bem-te-vi, espalhando as estrelas
de um céu pinicado no resto de noite insone
das sombras do telhado.

O amarelo do algodoeiro em botões abertos,
vicejou no terreiro da avenca
com todas as ervas de cheiro porque
a carne macia da alegria havia chegado
e transformado a véspera da noite alta em perigos
e a paisagem estranha de cenários desconhecidos
na manhã de um ambiente abençoado.

E foi assim, que após rodopiar em festa,
instalou-se ela nos meus olhos
e a boiada do meu olhar, em fogos,
deslizou-se feito cobra,
escorreu-se nas esquinas numa dobra,
engoliu a cidade numa enxurrada
e, esparramada numa tromba d’água,
espalhou-se em ramas de batata.

Essa alegria encomendada só apareceu
quando se sentiu bem chamada,
quando se abriu uma alvorada,
quando floresceu uma outra canção
e a chuva fria da solidão secou-se
ao surgimento de uma nova estação.
Aberta ao sol da esperança,
a alma alimentou-se em confiança,
e enfeitada de flores, estrelas, passarinhos
e ventos, esqueceu seus lamentos
e sentou-se debaixo de um pé de ipê,
ao pé da porteira e em companhia do saci-pererê.




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Um comentário:

  1. Alegria que aparece quando entra Setembro, e vem acompanhada da Primavera. Um abraço, Bispo.

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