domingo, 18 de maio de 2014

O homem de terno
















O saco de cereal e os ratos eram convivas.
Trajando um terno bem cortado,
chegou outra vez o homem com a bíblia.
Tão afastado quanto possível das multidões,
havia ele conquistado pequenas ilhas de confiança
com a sua palavra de cavalo baio.
Guardava na rouquidão um calor suave que
fazia breves intervalos.
Balançando a cabeça, ele fazia gestos alargados
e ziguezagueava pelas vendas da vila falando do Apocalipse
para as moças que gostavam de calipso.
Atrás de um arbusto, próximo dali, 
havia um gato sarnento
que dormitava em jornais de outras palavras,
quase dissolvidas, numa cuba de pedra ao final da rua.
Ali, Deus também morava sem os grifos de caneta
esferográfica que destacavam versículos.
Do telhado, alguma coisa vigiava a todos.
Eram as nuvens brancas que navegam
silenciosas na grande fascinação dos enigmas.


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4 comentários:

  1. Um poema-crônica bonito. Muito. Cheio de imagens. Gostei.
    de imenso.

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  2. Tropeio sempre por essas bandas campeando "sopros" de luz que me alimentam. Apanhei a "cotovia que tem cor de bandeirola", "sussurros dos arrepios" e "a altura das carnaúbas" (bárbaro)! E assim sigo enchendo minhas algibeiras sedentas e, também elas, carregadas de "outros perigos". Texto lindo como uma Bougainville vermelha.
    PS.: no texto do "Homem de termo" fico a pensar no sentido de "palavra de cavalo baio"... O terno bem cortado, a bíblia e o "afastamento" são bons indicadores, mas não sei se peguei o "trieiro" certo... Acho que é porque gosto dos baios.
    Grande abraço,
    Ana

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  3. Grato, mano Roberto Lima. É muito bom saber que curtiu esse pequeno retrato de vila. Estou aprendendo a fazer crônicas com você. Abração.

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  4. Grato, Ana Aquino. Bom ter você aqui. Seu incentivo me alimenta a cada publicação. Também gosto muito dos baios.rsrs. Ali, eu quis dizer que a palavra do homem de terno é eloquente, musculosa na intenção de salvar as moças dos "pecados do mundo" e de conduzi-las ao deus bíblico. Grande abraço!!

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Reverbere!