terça-feira, 27 de maio de 2014

Ternura



















Se aquele eterno feito de ternuras
e respostas num fluxo intenso e inalterado
é um mar preguiçoso que se movimenta sem pressa de chegar,
haveremos de confiar na eternidade branda rompendo
muralhas esplêndidas, deixando um rastro de espantos
acumulados nas lutas ferrenhas.
No embornal, cada espanto sabe que a sua escolaridade
é uma dádiva digna de confiança e assim confia na divindade.
Por sua vez a divindade, que tudo sabe,
preserva a memória dos finais perdidos,
dos nossos entes queridos, 
escondidos feito pontas de obeliscos.

Em algum nevoeiro denso e sombrio, 
circundado por algo incompreensível,
a sabedoria, que sempre evita desperdícios, 
guarda respostas antigas
e deixa que cada multidão siga algum destino numa pequena ilha
porque o sol suave, sem o mínimo de intervalo, sempre brilha.
Qual bálsamo bendito entorna-se em ruas desconhecidas
e as pedras dos percalços, 
que há muito conhecem os mormaços,
deixam-se  assim ainda mais quietas cada qual,
na zelosa tarefa de existir 
acima de vigílias ou expectativas e de serem
roladas ao cabo dos dias naquela suavidade prenha de poesia.





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2 comentários:

  1. Permita-me, poeta:
    A "muralha", o "nevoeiro", as "pedras quietas" - também elas há séculos atormentadas pelo som assombroso e ameaçador do mar e pelo silêncio enlouquecedor dos dias - são, junto ao Farol, parte integrante da memória dos finais perdidos. São "respostas" para os destinos ou, quem sabe, uma anedota contada pelas Moiras. Poesia pura soprada pelo Tempo no ouvido de um Universo predador. Onde não existem pontas soltas.
    Texto borbulhante de ternura. De lembrança. E de saudade.
    Ana

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  2. Com toda certeza, Ana. Elas chegam no vento como que trazidas por um sussurro e se transformam em palavras: um sopro de lembrança e de saudade de um lugar distante e sempre presente. Grande abraço!

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