sábado, 17 de maio de 2014

Ouvidos














Para ouvir o sopro antilírico
que faz morada de sanhaço
no beiral das casas,
precisarei de maior
exuberância nos ouvidos.
Precisarei não ouvir o vento
no bambuzal do quintal,
onde há uma cotovia
que tem cor de bandeirola,
e arrumarei novas palavras num cesto
junto a outros perigos.
Farei orelha de bananeira
para o sussurro dos arrepios
e acumularei experiência
na altura de uma carnaúba adulta
ao escutar os dragões que
recolhem nas nuvens de hulha
as fagulhas para serem atiradas
nas choupanas das resistências humanas.
Precisarei da tesoura, gilete
e crucifixo porque meu ouvido
só ousa escutar o que é bonito
e rejeita o lixo e o fel dos precipícios.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Reverbere!