quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A luz dos mistérios














Quando eu me recordar das velhas canções
que já cantei e nelas localizar os desvios e desvãos
de tantos nãos,
talvez eu me arrependa do tanto que me enganei
e repita, como numa reza, as antigas promessas,
mas, por hora, tenho comigo que os enganos
deste meu modo de ser tão humano
em sua insistência de tartaruga
na longa jornada pela infinita rua
são a raiz magnífica de tudo.
Por isso, eu sigo e não me culpo.
Vou sem pressa e lentamente
feito uma criança que desperta
e ao olhar à sua volta, desatentamente,
não repara a luz da janela
nem os detalhes do quarto dela.

Quando eu me recordar de velhas canções
que descortinam a vida
e das desilusões nela tão repetidas,
talvez eu queira me esquecer de tantas
cidades cruzadas e das vezes em que, na madrugada,
quando mais distraída estava a alma,
deixei de vigiar a enchente
e, em minhas incapacidades de gente,
muitas vezes, me fiz de valente.
Quis ser o que não era para romper
o inverno em primaveras
e conquistar, outra vez, sem alarde,
esta fugaz sensação de felicidade.

Quando eu, uma vez mais, quiser desvendar tudo
naquela ambição de abarcar o mundo
e quiser penetrar no império que há na luz dos mistérios
onde residem as respostas
feito trilhas limpas na escuridão morta,
talvez eu saiba comemorar este tesouro que ainda
desconheço e sempre me convenço de que o mereço.
Este enredo que não sei e que me aguça aos sentidos
num indefinível sussurro aos meus ouvidos,
este lago guardador de atlântidas,
esta alegoria epifânica, este algo imenso e duradouro,
que me persegue feito um touro
na eternidade desta arena.




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6 comentários:

  1. mas, por hora, tenho comigo que os enganos
    deste meu modo de ser tão humano
    em sua insistência de tartaruga
    na longa jornada pela infinita rua
    são a raiz magnífica de tudo.

    Bispo, destaquei esses versos, porque, numa espécie de sincronicidade, rtraduzem descobertas minhas tão recentes e tão reveladoras... Meu amigo, que grande tudo isso! Tão oportuno te ler aqui, agora...

    Beijos,

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  2. É verdade, Tania. A gente anda é devagar, bem devagarinho... tão devagar que às vezes tem-se a impressão de que não estamos nos locomovendo mas, no tempo da humanidade, tudo isso é muito perfectível e, por isso, magnífico. Beijocas, mana.

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  3. Por hora também tenho comigo que os meus enganos são necessários.
    Por hora também tenho comigo um bocado de dor e poesia e vontade ainda de vida.
    Por hora, venho ler os poetas.
    Por hora, venho fazer mais uma curva dentro do giro das palavras.

    beijo, Bispo!

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  4. eu me recordo sempre das velhas canções.
    ainda hoje escutava "poeira nos olhos", que vicente barreto tatuou na nossa mocidade.
    nem, desvios, nem desvãos: a trajetória é certa, como a linha da vida: nascedouro, morredouro, a beleza reservada à jornada.
    ô, terêncio, tem que visitar o blog dos colegas também, viu, seu moço?
    e deixar recadinho, bonitinho, pro caldo coletivo engrossar.

    beijão, do
    terêncio.

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  5. Tá falado, comandante (rsrsrs). Pódeixar. Ficarei ligado igual barata em proximidades de galinheiro!!! Abraço, Terenço.

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  6. Bípede Falante, navegar é preciso, como já dizia o poeta. Então, vamos pra frente velejando. Ainda bem que temos a poesia que nos guia a parte alguma a não ser para nós mesmos. Beijocas.

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Reverbere!