Ao querer compreender as coisas miúdas,
eu me ponho a catar agulhas,
vasculhando o chão de Vasco da Gama
e minha armada, inflada de vento,
antes de partir, reveste-se de miçangas
na parte de dentro
para navegar triunfante para as costas
e trocar falsos diamantes por novas rotas.
Eu quero caminhos fáceis para alcançar a beleza
sem que os dedos ágeis na mesa
não escondam o ouro, nem a glória
de uma expedição vitoriosa.
Assim, abro a boca e navego vogal afora,
chamando a chuva criadeira de visgo,
para fabricar em minha porta
um outro mundo desconhecido.
E o esmero com o qual trabalho
este mundo verdadeiro e sagrado
é um ofício de joalheiro
na busca de um brilho encantado.
Só então, a realidade rasgada ao meio,
mostrará um pedaço de cena rara.
Aí, feliz, minha armada
resumirá este mundo num verso -
mas não é um mundo qualquer.
É o verso de um mundo em excesso
e em que a ordem requer
a novidade de um processo:
Fazer a decomposição do antigo
em novas reelaborações;
desmontar as partes do brinquedo velho
e fabricar novas conexões
em nostalgias cujas cosmogonias
descortinem o teatro cego.
Por isso, a novidade é sempre velha
numa ordem que versa
mas, nem por isso, a velha realidade
deixará de ser bela.
..
Não existe nada de novo debaixo do sol, mas ainda assim o mundo é tão belo, não é mesmo? E tudo isso porque o antigo sempre poder ser revisitado, reestrurado, visto com outro olhar...
ResponderExcluirMaravilhoso poema.
"Não há nada de novo debaixo do sol", mas ainda assim o mundo é belo, não é mesmo? E tudo porque o que se chama de velho pode ser sempre revisitado, reestruturado e visto com outros olhos.
ResponderExcluirLindo poema.
É isso mesmo: é só chamar a "chuva criadeira de visgo" para florir o mundo e saber receber a sua chegada, em forma de poesia. Grato pela visita, seja bem vinda! Beijocas.
ResponderExcluirUm grande poema aquele que esmiúça o que é pequeno.
ResponderExcluirBeijos,
Grato, querida amiga. São essas miudezas que trazem mesmo o reverso do verso. Grato pelo carinho e pela presença. Beijocas.
ResponderExcluirpor mais velha que seja, a nova idade sempre se será.
ResponderExcluirassim como a sua poesia, bispo, sempre com cheiro de livro novo.
abração,
r.
Grato, mano. E viva o visgo da Dona Joana, sua vizinha!
ResponderExcluirabraço,
Bispo