sexta-feira, 22 de março de 2013

Debaixo do Jacaré
















Debaixo do jacaré há um redemoinho sem saci,
uma cartilagem de abacaxi,
um céu pesado sem estrelas,
uma guaxima sem sabiás laranjeira.

O jacaré é monocórdico tambor
que enche de mornidão o tempo,
é contentor da maré vazante 
que atravessa paredes
e que inibe o azul acessível à população,
um azul emudecido em seus marulhos de cantor.

Debaixo do jacaré há um silêncio amordaçado,
uma rotina cimentada em laje
que não nos permite receber
canções e camélias,
que não nos permite enxergar as cores vivas
e assim, com os olhos cavos, 
ficamos mais tristes,
com a voz arrastada, ficamos mais calados.

Debaixo do jacaré está o outrora -
porcelana da china e corpo de angina -,
está o agora - trêmulo bordão do impossível -,
está o futuro multiplicado em ostras
num escuro onde não reluzem pérolas. 

Debaixo do jacaré 
o bandalhismo triunfou no filme,
os cerzidos amarraram os vulcões e
os muros inequívocos apartaram os bem-te-vis

Porque o jacaré é a rotina sem rosas,
é quando nos distraímos e nos perdemos
do oriente que nos guia no canavial
e no oceano que intuímos.


.

4 comentários:

  1. às vezes hermético, noutras escracho. assim é bispo filho?

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  2. Hedergaspio, creio que sim. Rsrsrsrs. Eu mesmo não sei. Não faço isso de caso pensado. A intuição é quem traça o caminho. Grato pela visita. Abração.

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  3. Nas Minas há terras íntimas do Mato Grosso? Lembrei eu do meu Manoel de Barros querido. Bispo, essa Rotina sem rosas traduziu páginas minhas que pareciam em hieróglifos...rs ...indecifráveis. Um poemaço.
    Beijos,

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  4. Grato, querida! Espero que você seja visitada muito em breve por rosas e sabiás! Os dois estados são íntimos, e como...Beijocas.

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