quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Marinha


















Eu e o oceano somos irmãos.
Encontrei-o aos dezessete anos no Espírito Santo
e vazamos unidos rodovia acima,
caminho inverso da multidão.
Desde então, eu sigo incomportado de sal e rapsódias.

Quando sinto a língua crepitando seu fogo,
estendo bandeiras e velas e sangro como
quem quer redimir o mundo.
Neste ínfimo instante, eu e os heróis
da minha falange, aparecemos com rosas,
farpas, balas e curas nas mãos.

Mas nem sempre foi assim.
Era costume meu ver a vida da janela
até que um dia veio um vento flauteando
uma canção e eu dancei
como nunca dançara antes.
Aprendi a chover a cada nuvem desfeita.

Porque navegar é humanamente urgente,
preciso falar do amor para este
que me espera em meus sapatos.
Preciso cantar o mar que se infiltra
no coração das gentes.


Publicado no livro “Povoado”, 2006,
Editora Scortecci – São Paulo


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9 comentários:

  1. Bispo, ainda há como encontrar "Povoado"? Dá-me a pista? Estes versos são teus, mas fazem parte da minha biografia:

    Mas nem sempre foi assim.
    Era costume meu ver a vida da janela
    até que um dia veio um vento flauteando
    uma canção e eu dancei
    como nunca dançara antes.
    Aprendi a chover a cada nuvem desfeita.

    Você escreve lindamente!
    Beijos,

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  2. Aos 17? eu tava lá?
    Não me lembro direito de uma viagem que fizemos (ou se eu morava lá... naqueles seis meses de purgatório). To tentando juntar as pontas dos barbantes.... e acho que o wagner - que tocava percussão e era funileiro - estava conosco e eu havia surrupiado sua sunga(sua, zé, não dele, sunga, alguns numeros menor que o meu manequim...rs... éramos mineiros ao mar.

    do espírito santo guardo poucas recordações boas. um buzio de marataízes, um hálito de moqueca, uma ou outra canção do bona (que era professor), aquela 'veraneira' do guto neves (que era bancário).
    mal sabíamos nós que elisa lucinda circulava tão pertinho e ninguém via ninguém.

    beijão,
    r.

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  3. Mas é claro que estava presente, mano. Fui visitar o mar e você e sua família, que tinham se mudado para Cariacia (ES). Até então, o que conhecia do mar era pouquinho de areia e um pouquinho de água salgada que a Cilinha, minha irmã, havia trazido para mim de Salvador num vidrinho de penicilina. Conhecer o mar depois tanta expectativa foi simplesmente mágico. E, sim, as lembranças permanecem: a sunga vermelha apertada, o Wagner da tumbadora, Carlos Bona e Guto Neves que enfeitavam de moças e praias capixabas o nosso pensamento... A Elisa Lucinda eu vim conhecer muito tempo depois, através do Tavares Dias. Mas, claro, ela já circulava por ali com aqueles olhos marítimos de gata. Abração.

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  4. Tania, minha querida, será um grande prazer para mim te enviar um exemplar do Povoado. Preciso apenas do endereço que peço, por favor, enviar para o meu e-mail particular: bispofilho@yahoo.com. Agradeço imensamente o seu incentivo. É essa força que nos move adiante: saber que nossas palavras poderão sondar alguns corações. Beijocas.

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  5. Olá, Bispo! vim lá do Primeira Pessoa, navegando na indicação do Roberto, e desaguei aqui, muito encantada com o que li no teu BLog. Seguinte, vocês até podem ser de Minas e tal, mas o texto (de ambos) é tão fluido, tão fluido, que parece mar. Aquela parte do mar que vem de mansinho e toca refrescante na gente.
    Um abraço

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  6. ... "até que um dia veio um vento flauteando
    uma canção e eu dancei
    como nunca dançara antes."


    Lindo demais meu irmaozinho!!! Este trecho eh daqueles que gente le, se maravilha e fica morrendo de vontade de ter escrito!

    Eiiittaaaa Zezinho danado!!!
    Moleque menino... Menino moleque...
    Da beira do rio e de pes descalcos...

    PARABENS MEU IRMAO!!! Saudades do varal!

    Gaivota.

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  7. ... "até que um dia veio um vento flauteando
    uma canção e eu dancei
    como nunca dançara antes."

    LINDO meu irmaozinho!!!

    Este trecho eh daqueles que a'gente le, se maravilha e fica morrendo de vontade de ter escrito!

    Eiiitaaa Zezinho DANADO!

    Menino moleque... Moleque menino
    da beira do rio e de pes descalcos...

    Saudade do varal meu velho!

    Beijo cosmico para voce.

    Gaivota.

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  8. Ô Tatiana, seja benvinda! Te recebo em comunhão neste espaço simples feito uma casinha de palha, mas com as portas inteiramente abertas para os amigos! Você veio de canoa e é um rio desaguando no outro. Vamos seguindo juntos então nesse curso infinito que é a Poesia. Quanto à marola, ainda sou aprendiz mas um dia eu chego lá. Mais uma vez, seja benvinda, mana! Beijocas.

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  9. Mano Eustáquio Gaivota, que surpresa! Inusitado esse reencontro nosso! Que bom que gostou do poema! Sua opinião conta muito pra mim. Tenho muitas saudades dos nossos voos e dos tempos em que recitávamos poesia aos domingos, na praça. Estas lembranças permanecem para sempre guardadas. Vamos seguindo, pois muitas coisas boas ainda nos estão reservadas!Outro beijo cósmico para você, mano!

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Reverbere!