quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A emoção
















Eu me esqueço muito quando busco
pensativo o fluxo que há eterno
e incrível atrás do mapa onde,
na sombra de uma emoção invisível,
posso descansar no conforto
de minha casa e me deixar conduzir
por uma enxurrada que escorre feito
cavalo selvagem despejando rosas
em estações de paradas.

O mapa é evidente, mas prefiro
não ver o mapa.
Prefiro ver, no lugar das estradas,
o fluxo de uma correnteza
de curso d’água que segue rápida
formando ondulações que me levem
à madre das fadas por entre as pedras
e as florestas de limo molhadas
onde moram as principais palavras.
Ah, as palavras de água! Tão geográficas!
Feito sangue caudaloso elas percorrem
o meu corpo e me causam uma enchente de alma!

Mas há aquelas que, densamente,
apontam o limite do espaço cujo
tempo faz morada.
A superfície sólida por onde
meus pés aportam e andam enquanto
dormem os minerais e a vegetação
se enverdece: - o chão das palavras.
Chão continental ou pó de palavra
que vaga, ilha solta em mim,
resquício, terra, estilhaço de granada
do qual me tornei sua casa.

Quando sofro ou festejo, as palavras
impulsivas formam uma fogueira
que me queima por inteiro.
Recolho, então, o fogo de suas brasas,
guardo suas flores e fulgores
e componho uma canção apaixonada.

Mas, em tudo quanto posso, sou aéreo
pois é no vento que respiro o ar
imensurável carregado de mistério.
No ar e em seu reinado atmosférico
é onde permaneço por entre brisas
e tempestades essenciais.
É onde, abstrato, deito-me entre
palavras e busco, silencioso,
o segredo dos elementos originais.


.

6 comentários:

  1. Os quatro elementos penetrando a palavra: isso é tão bom.
    Lembrei-me de Bachelard, e suas águas, e seus fogos...enfim. Tua poesia é sempre minha. Aposso-me no sentir. Me visto de ti. E me sinto, então, poeta, das melhores. Como és.
    Beijos,

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  2. Eu nem sei se queria ser aérea, mas acabei sendo essa coisa ar e nuvem com um sobrenome de terra.
    E aí nem sempre posso me deitar.
    Algumas temporadas são de chuvas.
    Outras de secas.
    Outras nem são.

    beijoss da bípede nuvem falante Lelena :)

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  3. Tania, gosto muito do Bachelard e essa, é mais uma afinidade nossa. Aposse-se da minha modesta poesia mesmo. É para almas como a sua que escrevo. Então a poesia não é minha, mas nossa. Desfrutemos dela numa degustação demorada! Beijocas.

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  4. Lelena Terra, o ar é onde pairamos, é o sopro da nossa respiração e de onde projetamos o som da nossa fala, cheia de palavras às vezes encantadas. Outras vezes, nem tanto. Atravessá-lo, mesmo em temporais, requer astúcia de navegante e confiança num claro arrebol. É nesta aventura que nos tornamos mais fortes e firmes, passeio de nuvem indecisa que sonda o ar mas que conhece o horizonte e as alturas sem medo de velejar. Beijocas, mana!

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  5. no tateamento das essências
    percebemos que é no ar que ela está

    não é mesmo mano?

    abração Bispo

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  6. Sim, mano. Ela, como tudo, está no ar e nós a apreendemos com as "mãos abertas" e o coração. Abração.

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