domingo, 12 de fevereiro de 2017

Revolução














Serralha espinhenta nascida
na calha da rua barulhenta,
aprende com as coisas miúdas
e pacifica teu espinho de brejaúva.
A verdadeira grandeza é invisível
e não ostenta os artefatos da ilusão.
Assim, faze silenciosa tua evolução
sem a incrível vestimenta das rosas
ou a falsa glória das ostentações.
Enquanto os carros passam, silencia
e observa o ciclo engolindo o dia.
Cada lição aprendida vale ouro
para guardares no escaninho.
Parecem inexplicáveis as injustiças,
mas é lógico o destino das plantas invisíveis,
por mais que fiques ferida
quando a multidão te pisoteia
na pressa terrível dos dias.
A tudo suporta quieta e paralela,
estudando sozinha o mundo.
Um dia saberás que valeu à pena
tua confiante e heroica novena
e terás então registrada em livro
uma experiência que te forjou árvore,
frondoso palácio de passarinhos.
Ainda assim não te avistará
quem cruza a rua em desalinho,
mas teu passado de mostarda continuará
recolhendo lições e aprendizados
para o infinito paraíso dos pássaros,
pois a invisibilidade na cidade
é a verdadeira cortina do espetáculo.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O Capital














O micróbio do dinheiro 
na ferida do mendigo
ambiciona e faz medo 
no projeto em que o rico
quando deita se preocupa 
que se afaste o bandido,
que o desastre da falência 
fique longe do seu circo
de aparência e desfile, 
de holofotes e perigos,
de inveja  na revista 
que destila seu prestígio.
O dinheiro cria perna, 
salta longe feito grilo
no mercado da oferta, 
na procura em sigilo
mata fome, vira ponte, 
vira casa, edifício,
operário na labuta 
sempre sua no suplício,
sonha carro, sonha vida, 
sonha roupa, sonha filho
e o dinheiro sempre escapa, 
vai na asa de um trilho
vai pro banco, vira vento, 
roda o mundo no estribilho
sai do cofre, vai no bolso 
e num gesto de esforço
sai do rico e retorna 
bem na rua onde estende
e recebe sorridente
a mão pobre do mendigo.


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