sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os amantes













No céu, por uns instantes,
ao sul de alguma noite,
decifra o amante a cisplatina fria
numa prata luzidia
que antes, tudo negava, nada queria.

Agora, o sapo murmurante
deixa de coaxar sua fêmea e,
com a língua pegajosa,
lança-se ao mar estendido,
depositando sobre o pano
o gemido colhido no raiar da aurora.

Descansa, iça a alma que descamba
e recupera o fogo amanhecido
para a chuva desastrosa que a tudo inunda,
mas que evapora esbraseada
nas gretas profundas.

Ela, a fêmea, oferece um abraço de pernas
e um esgar de cavalos para cavalgar
com a anca aberta a lua dadivosa.

Ele, o macho, oferece o navio guardado e
um ímpeto bravio para naufragar
amarfanhado todos os desvarios.

E a oferta dos dois é uma só astúcia
arqueada na tempestade revolta que,
fatigada, em gemidos, ecoa.
Os amantes e, só eles, num instante,
produzem diamantes.


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6 comentários:

  1. Passe no Primeira Pessoa e abane o rabo.
    Seu poema ressuscitou uma canção.

    Beijão do

    R.

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  2. Bispo, que poema, que poema. O Roberto me deu o mapa da mina,



    grande abraço

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  3. Mano, grato pela consideração. Seja benvindo! Vamos caminhando juntos dentro do oceano da poesia. Tenha em mim, também, um seguidor. Abraço.

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  4. Roberto Lima, grato pela visita: servida a mesa, passado o café, preparado o queijo, vamos à degustação. Com certeza vou retribui-la. Abraço, mano.

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  5. Bispo, que bela alma você tem! Costumo dizer, desiludida, que nesse mundo nada mais me espanta. A poesia, dos poetas de verdade, me espanta, me assombra, me encanta. Que poema, garoto! Um assombro... E tantas letras para um não saber dizer... Sinto.

    Beijos,

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  6. Grato, mana! As palavras escondem, realmente, os silêncios. Silencios de outra realidade, que nos aguarda. Ir lá, de vez em quando, me dá imensa alegria. Beijocas.

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Reverbere!