Ô, meu canoeiro!
Se no vínculo das
águas no remanso das pedras rasas
as águas
ainda relincham suas éguas na jaula
como se
chovessem palmas,
acalma teu coração!
O teu passatempo
favorito de olhar a lagoa
com olhos de
quem anda à toa
perde o sentido porque
possuis um rio.
Viaja então nele,
canoeiro!
Dissolve o passado morto,
transformando as
rotas nervosas em coisas ociosas.
O tecido do ócio
é feito do linho do esquecimento
e, por isso,
sempre traz contentamento.
Ao saíres da
casa cedo, canoeiro,
deixa que a
manhã te reserve algum segredo
e que a surpresa
da romã desperte aos poucos
algum ouvido
mouco para o colorido devido.
Leva a tua canoa
e a tua casa sem medo
por entre as
pessoas porque o rio é imenso,
na dimensão do
próprio tempo.
Compartilha com
elas todas as tuas coisas boas,
porque tua canoa
é um presente de navegar nas enchentes
da multidão de
gentes que caminha sonâmbula.
Apesar da
neblina esparsa,
nunca esqueças
em tua gôndola
as
borboletas acrobatas
e as garças que enfeitam a vida.
Distribui as belezas
do teu coração
no sonho de unir
ombro a ombro
e encurtar todas
as ilhas
porque teu
título de canoeiro é o mesmo de
cada ser vivente
que conduz uma canoa.
Assim, o teu dia
se tornará modelável em pedra-sabão
no canto açulado
de um azulão
e com a alegre
algazarra das maritacas
vinda da mata
cerrada e isso,
com certeza, contagiará
outras almas.
.
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