Carrega o menino sem teto a sua terra na alma,
um estilete, e uma cratera na goela.
A chuva, que lavou a roupa descorada,
fez purgar um rio na inflamação do ouvido,
que escorreu caudaloso pela calçada.
Carrega a sopa do último Natal e um pão velho –
cavalo manso liberto a vagar insepulto
com os fantasmas escapados de algum embrulho.
Às vezes, escapole-se das cordilheiras dos prédios
e vem chiar baixinho em vento andarilho no lixo vadio
a rosa do seu esôfago onde rosna um cão.
Outras vezes, a caridade da cidade
entorna restos de comida no lugar
em que passeiam as formigas.
Recolhe, então, cada migalha e partícula
e, com a cera da alma, encera o chão.
Da ojeriza dos outros, organiza
seu esconderijo de sombras,
habitado por vultos famintos.
E é nesse império fustigado
que envelhece em horas mortas,
invisível de porta em porta,
junto a outros meninos.
.
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