Do que há de insuportável
na cidade,
descortina a lembrança
branca de sempre-vivas
e guarda em sigilo a
longínqua película
em que a infância palmilhava
a instalação das aves
no colonião dos campos.
Nos transtornos urbanos, foge
para o campo.
Fecha os olhos e visita a
cena em que as açucenas
aparecem viçosas na beira
dos córregos
e, da indolência das vacas
ruminando iodo no capim salobro,
desfia aos poucos a colcha
rendada da tua paciência.
Quando tiveres uma real
fome,
lembra dos taiobais e
inhames da beira do rio
onde as capivaras focinhavam
as batatas do barro
e recorda do teu almoço
caro.
Na falta da prudência,
lembra da
ventania extraviada que
levava a boiada ao infinito
e voltava com a chuva
espichada num aviso
e atente ao que possa ser
previsível.
Se não te sentires perfeito,
lembra-te direito
do bote da cobra armada nos
novelos de fumaça
que rodilhavam da chaminé
da casa e
guarda o cheiro de pastéis
fritos e teus pequenos delitos.
Dos destroços da noite onde
cantavam os galos,
guarda a manhã desmanchada
em rosários.
De onde havia bem-te-vis em
algazarra,
guarda em teu peito uma
festa bem animada.
E, acima de tudo, não te
esqueças da tua casa
feita de palhoça e em
terracota de joão-de-barro.
Nela está o mundo
resguardado e inesquecível,
mundo indissolúvel e
permanente, que nunca
se fará ausente onde quer
que venhas estar.
.
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