No pasto, as louras flores de camomila,
E na terra, os afazeres das formigas,
Dão-se reinados para seus olhos
Que no mundo vagueiam incólumes
Porque o mundo guarda-se imaculado
Nas gavetas de tesouros inviolados
Onde o cego nunca saberá por certo
A real vastidão do seu deserto.
Ao norte, esquivando-se das bússolas,
Passeia ele em formosuras.
Não guarda ofensa miúda
E contenta-se com o perder-se na rua.
Em noite púrpura que a tudo encobre,
Agasalha sapos e gafanhotos nobres
Que haver-se-ão empossados,
Cada qual em seu mandato.
Nem antes e nem depois, mas no ponto,
Na reta onde está o encontro
Para as cortesias e os acidentes,
Vai o doido cismando silente.
Em bandeirolas murmura ao vento
Os recados que são inventos
E ouve o som das assembleias
Lá do alto das camélias.
Nas vértebras de cristais quebrados
Moram épicas do que foi sonhado
E as lutas de tantas tertúlias
Marcaram sua carne em fúria.
No relâmpago viaja e anda
Ou nas estrelas que cintilam.
O chão duro é sua cama
E tem uns olhos que imaginam:
“Uma vez, tive família,
Mas, perdendo minha filha,
Visitei a insanidade
E encontrei felicidade
Neste paraíso achado,
Onde sigo encantado
De imagens e poesia,
Não me importo mais com os dias.”
.
.
Conheci Batatinha, claro.
ResponderExcluirConheci seus gritos brotados de nadas.
Batatinha está na minha mitologia.
Abração,
R.
ps: e o poema é uma beleza.
Isso, mano. Ele faz parte da mitologia sãoraimundese. Talvez, com o tempo, eu possa reverenciar outros personagens, como você faz também de forma magistral. Grato pela visita. Abração.
ResponderExcluirnão conheci este
ResponderExcluirmas muitos outros Batatinhas
que continuam nos desafiando
tempos e espaços afora
talvez só eles saibam a real vastidão do nosso deserto
abs mano
Sim, mano. Os doidos siderados são profetas que, por sua vez, se fazem de enigma. Poesia e insanidade andam juntas, creio eu. Abração.
ResponderExcluirPues yo yo no conozco a Batatinha pero me gustan tus versos de noche púrpura. Abrazo, Bispo.
ResponderExcluirGostei de saber dessa historia
ResponderExcluiratravés de um belo poema
beijos
quanta coisa bonita tem aqui... voltarei! e isso: "Aprendiz de gente.
ResponderExcluirEscrevinhador de arrepios. Solfejador de aleluias, garimpeiro de estrofes, sou um caçador de rimas.
Estivador de versos.
Arauto das amizades e do bem-querer. Zelador da beira do rio.
No fundo - e no raso - eu sou mais um caboclinho d'água." sua descrição, de repente me lembrou tanto a minha própria... "escrevinhadora e tenedora de pensamentos"... adorei! a sua é muito mágica. um abraço :)
Este "Batatinha" pode ser de São Raimundo, mas está presente em outros lugares, um pouco por todo mundo.
ResponderExcluirBelíssimo poema!
Lídia
Grato, querida Indigo, pela apreciação. Batatinha foi um daqueles doidos siderados e profetas que andam pelo mundo. Como todo doido profeta possui algo de poeta, pensei em prestar esta singela homenagem a ele. Abraços.
ResponderExcluirFico feliz, Bandys, ainda mais porque gostou do poema. Você é mesmo uma queria! Seja sempre bem vinda a este blog! Beijocas.
ResponderExcluirQue bom, Clotilde, que somos parecidos! Que da nossa afinidade e identidade surja uma grande amizade. Seja sempre bem vinda, Farei uma visitinha também no seu latifúndio, para conhecer a sua produção. Sejamos, enfim, amigos nesta jornada poética! Beijocas.
ResponderExcluirSim, Lídia Borges: alguns são esquizofrênicos mas, outros, possuem clara consciência de sua escolha, fazendo de cada dia uma obra de existência. Veja só o caso do Gentileza, no Rio de Janeiro! Abraços.
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