sábado, 17 de agosto de 2013

História do Batatinha















No pasto, as louras flores de camomila,
E na terra, os afazeres das formigas,
Dão-se reinados para seus olhos
Que no mundo vagueiam incólumes

Porque o mundo guarda-se imaculado
Nas gavetas de tesouros inviolados
Onde o cego nunca saberá por certo
A real vastidão do seu deserto.

Ao norte, esquivando-se das bússolas,
Passeia ele em formosuras.
Não guarda ofensa miúda
E contenta-se com o perder-se na rua.

Em noite púrpura que a tudo encobre,
Agasalha sapos e gafanhotos nobres
Que haver-se-ão empossados,
Cada qual em seu mandato.

Nem antes e nem depois, mas no ponto,
Na reta onde está o encontro
Para as cortesias e os acidentes,
Vai o doido cismando silente.

Em bandeirolas murmura ao vento
Os recados que são inventos
E ouve o som das assembleias
Lá do alto das camélias.

Nas vértebras de cristais quebrados
Moram épicas do que foi sonhado
E as lutas de tantas tertúlias
Marcaram sua carne em fúria.

No relâmpago viaja e anda
Ou nas estrelas que cintilam.
O chão duro é sua cama
E tem uns olhos que imaginam:

“Uma vez, tive família,
Mas, perdendo minha filha,
Visitei a insanidade
E encontrei felicidade

Neste paraíso achado,
Onde sigo encantado
De imagens e poesia,
Não me importo mais com os dias.”

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12 comentários:

  1. Conheci Batatinha, claro.
    Conheci seus gritos brotados de nadas.

    Batatinha está na minha mitologia.

    Abração,

    R.


    ps: e o poema é uma beleza.

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  2. Isso, mano. Ele faz parte da mitologia sãoraimundese. Talvez, com o tempo, eu possa reverenciar outros personagens, como você faz também de forma magistral. Grato pela visita. Abração.

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  3. não conheci este
    mas muitos outros Batatinhas
    que continuam nos desafiando
    tempos e espaços afora

    talvez só eles saibam a real vastidão do nosso deserto

    abs mano

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  4. Sim, mano. Os doidos siderados são profetas que, por sua vez, se fazem de enigma. Poesia e insanidade andam juntas, creio eu. Abração.

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  5. Pues yo yo no conozco a Batatinha pero me gustan tus versos de noche púrpura. Abrazo, Bispo.

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  6. Gostei de saber dessa historia
    através de um belo poema

    beijos

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  7. quanta coisa bonita tem aqui... voltarei! e isso: "Aprendiz de gente.
    Escrevinhador de arrepios. Solfejador de aleluias, garimpeiro de estrofes, sou um caçador de rimas.
    Estivador de versos.
    Arauto das amizades e do bem-querer. Zelador da beira do rio.
    No fundo - e no raso - eu sou mais um caboclinho d'água." sua descrição, de repente me lembrou tanto a minha própria... "escrevinhadora e tenedora de pensamentos"... adorei! a sua é muito mágica. um abraço :)

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  8. Este "Batatinha" pode ser de São Raimundo, mas está presente em outros lugares, um pouco por todo mundo.

    Belíssimo poema!

    Lídia

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  9. Grato, querida Indigo, pela apreciação. Batatinha foi um daqueles doidos siderados e profetas que andam pelo mundo. Como todo doido profeta possui algo de poeta, pensei em prestar esta singela homenagem a ele. Abraços.

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  10. Fico feliz, Bandys, ainda mais porque gostou do poema. Você é mesmo uma queria! Seja sempre bem vinda a este blog! Beijocas.

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  11. Que bom, Clotilde, que somos parecidos! Que da nossa afinidade e identidade surja uma grande amizade. Seja sempre bem vinda, Farei uma visitinha também no seu latifúndio, para conhecer a sua produção. Sejamos, enfim, amigos nesta jornada poética! Beijocas.

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  12. Sim, Lídia Borges: alguns são esquizofrênicos mas, outros, possuem clara consciência de sua escolha, fazendo de cada dia uma obra de existência. Veja só o caso do Gentileza, no Rio de Janeiro! Abraços.

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