O irremovível farol, tem na
altura
o benefício de sua estrutura.
Suas engrenagens movem-se com o
zelo
na medida certa de cada apelo e
nunca haverá cansaço em sua
solidão.
É o grande guia e, na
perplexidade
de algum momento insólito,
diante dele, os grupos miseráveis
de pássaros animosos acalmam-se
e não abraçam a apatia.
Ao contrário, sentem o alarme
submarino
dos peixes e voam na retina do
espetáculo
na faina de interceptá-los,
fazendo do céu um escritório de
bordados.
Na imensa luz de um sol recolhe
em noite sombria todos os barcos
e deposita-os no pano de linho
com cuidado.
Guarda-os bem guardados
dentro dos muros de hera compacta
onde não haverá azáfamas.
Vigia a noite em observatório,
intensificando o lume de cada
estrela
e espargindo ao longe a sua beleza.
Orienta a embarcação que
perdeu-se
num mergulho no escuro e que,
chamando por socorro,
encontrará o caminho mais curto.
Confirma-se a todos os que o vaticinaram
na pedra angular, clareando a
medonha eclipse
e, nos passos firmes de um pai,
oferece segurança na crepitação
juvenil das horas.
Está acima do sortilégio das
ideias
e das palavras porque a amplitude
é sua senhora e os recursos,
em exigüidades, nunca alcançarão
todas as suas possibilidades.
A maresia não alcança-lhe o corpo
soberano
e é na condição incorruptível
de qualquer engano que ali
permanece.
Ao que flanava sem rumo,
oferece a mansidão de um
ancoradouro.
Na distância vasta e desesperada
dos desorientados,
é um monte sobranceiro.
É estrada bordejada de flores
para
o enxame dos que buscam paz na
insalubridade.
Para o malabarista desatento
é baluarte numa constante
vigília.
Para qualquer indagação é
resposta antecipada
ao que inesperadamente se
pontifica,
e ergue a mão aos que são salvos
no sobressalto.
Revela a sombra camuflada
do que antes havia se esgueirado
porque não se lhe esconde nenhuma
perfídia.
É obra portentosa que se fez
e se fixou no eterno,
indo morar na vértebra de um
mistério.
Recolhe os ventos da tempestade
e os apascenta em silêncio.
O mesmo silêncio que não se ouve
no matraquear das máquinas que
regulam destinos.
No vai-e-vem das dúvidas, impõe
singeleza às ondas
e uma infinita certeza de que o
caminho do regresso,
numa distância longa, possui a
estreiteza de uma ruela.
Dos campos, recolhe sussurros elegíacos das preces,
e liberta a todos da escravocracia
nas panaceias.
Porque assim o é, recolhe e
guarnece
a camaradagem e a leveza dos
humildes nas vésperas.
É invisível nas estúrdias do
arrebol, mas assoma-se.
É sustentáculo e porto seguro
este farol.
De tudo o que se passou, existe e
haverá,
recolhe as mechas do tempo - barbeiro
pândego -.
e guarda-as numa caixa de estojo
de futuro.
No cenáculo embevecido,
desenha-se em quadro abstrato
numa noite
derretida no ardor da vida,
e desabrocha no espaço fundo da
galáxia
a aurora radiante onde antes nada
havia.
.
pretty nice blog, following :)
ResponderExcluirBonito esse olhar que vê a solidão do Farol. E o espargir da luz. Bonito pensar nessa imagem perene e, como você bem nos lembra, incansável. Fiquei a olhar a imagem que ilustra o poema e diversos Faróis vieram à mente: quer estejam a iluminar as noites das eras, quer a guiar os homens na História. E outro olhar, igualmente belo, me intrigou: o olhar de quem, incansavelmente, olha o Farol. Olha e espera. Do porto, do cais, no passo apressado do caminhante, o retorno daquele que permanece perdido.
ResponderExcluirBelo texto.
Ab,
Ana
Thanks, Skyline Sprit! It´s a plesure your visit here! hugs.
ResponderExcluirGrato, Ana! Sua generosidade comigo é extrema e sua motivação só faz com que eu me aventure ainda mais nesse mundo de poesia. Sim, todos os faróis me fascinam. Persigo a luz do farol como quem procura alimento. Ela é imprescindível para enxergarmos a estrada nas lutas evolutivas de quem faz o caminho enquanto anda. Grande abraço!
ResponderExcluir