domingo, 20 de novembro de 2022

TRIUNVIRATO









Pelo movimento, agradecemos!

Sim. Agradecemos porque

verdadeiramente

Nada de tudo para.

A quietude se locomove,

desata-se, e sobe.

Depois desce, descansa, dorme.

Infinitamente Nada se define,

pois o finito não é fine.

É o instante que abarca o longe,

mas permanece em seu destino.

Sempre presente

foi, é, e será

numa eterna semente

que no existente está.

E assim, produtiva,

circula e não se perde.

Pelo universo vagueia,

passeia, se ativa,

ferve e se esfria.


No ciclo que se repete,

nunca é inerte.

Em repouso não se folga,

ao dormir não se perde.

Em tudo se robustece.

Quando se despede, retorna,

envelhece e se renova

no fio que tece.

Seu engenho trabalha,

e nele, nada fenece.

É o adubo da palha

que o milho se ergue.


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sábado, 13 de março de 2021

Instalações Subterrâneas







Eu sigo visitando um tanto de lugares

com o volumoso desejo

de construir liberdades em aberto.

De Aquiles procuro aqueles

com o tendão descoberto

e faço juras de amor incerto.

 

A minha linha não é reta

e me apresento aonde me conhecem

e onde sou, para quem dorme,

apenas o vento acariciando

as árvores estáticas

com o enorme invento

de um moinho com rodas fantásticas.

 

Reivindico os inocentes dispersos de futuro

para acomodá-los feito peixes

numa sala iluminada de bem maduro.

 

Em todo o esplendor flui a vida,

balançando-se na dança

de vitórias e perfídias,

mas, acima dos rompantes meus,

estou deitado nas mãos de Deus,

e lanço visões que sempre se instalam

insistentes desmanchando misérias humanas

quando espalho luz onde há sombras.

Luz com as mãos de algodão.

Mãos de seda sussurrando

o vício desfrado das bandeiras.

 

Quando já são idas todas as alegrias

e a indispensável esperança,

a minha mão, em precipícios erguida,

rege sempre estendida, à beira,

a palavra oculta e sinfônica.

Então, os miseráveis corações com fome,

embarcados numa carruagem insone,

seguem tangenciando-se à frente,

divisando o tão sonhado porto.

 

Assim como vos digo,

embarco com eles

em assombros e perigos,

tornando a extensão do Amor o meu conforto.



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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Pescaria












Tambaqui aqui
na lagoa boa
onde o lambari
pula, salta e voa
o menino vai
pelo mato afora
e a tarde cai
bem na sua folga
anzol no bambu
embornal de pano
olha o céu azul,
senta no barranco
linha atirada
longe lá na água
nylon com estanho
mergulha no banho
tempo passa pouco
já que peixe grande
é vadio e solto
galho-goiabeira
que se fez fieira
logo fica cheio
deitado na beira.
quando vai embora
cumbaca chiando
chega lá na casa
vem a mãe falando
põe dentro do tanque
o piau bonito
Deus que abençoe
esse meu bom filho.



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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Estética















Quem me ensinou foi tu, uirapuru,
que a beleza tem muitas formas de ser.
Quando cantas na mata, os passarinhos
fazem silêncio para ouvir-te fazer
música, bela música que encanta
por onde vai e aonde alcança.
Na aparência tua és bem discreto
quando a tudo misturas secreto.
Deve a Natureza dizer-nos
que a simetria festejada,
que o pavão em cores avivadas,
para declarar totalmente o belo não bastam.
Canta, uirapuru, pelos cantos do mundo,
pelo poço mais fundo
que os cordões dos padrões desatam.
Canta, ano após ano,
para que aprendamos o que se esconde
em mistério na vistoria do nosso olhar
quando te revelas assim soberano
em teu simplérrimo império
nos ensinando na alegria do teu cantar.


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domingo, 8 de dezembro de 2019

Intangível porto
















A cada momento 
descartamos a carne,
essa temporária imagem,
e o momento se vai,
mesmo que sutilmente,
dissolvido na bruma ambiente da memória
que hora se alegra, 
mas, também, chora
para seguir a um lugar distante,
intangível porto que se põe avante
onde haverá sempre outro mar,
esse estanque repouso de vivências
guardadas no embornal dos errantes.
O que se foi guardado fica,
tesouro que na alma habita
disponível a visitas.
Viagem em linha reta,
às vezes oblíqua,
vamos todos carregando canções,
todas gravadas em corações
com tudo o que tivemos e temos.
O passado nunca fica ausente
apesar de novas miragens
que se abrem à frente.
A graça de viver recolhe, coleciona, 
acaricia carinhosamente
as joias que tal e qual
um sopro imortal
moram dentro da gente..




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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Canção de amar






















Sal, castiçal do astro rei numa nau
Pra quem se vai no adeus vertical
É um balão de São João a subir
Numas alturas de nuvens a vir
Toda manhã novamente a brilhar
Sol no lençol de uma frase no mar
Diz que alguém que se foi vai voltar
Numa alegria ao mesmo lugar
No horizonte dos montes e vãos
Todas palavras que levam balões
Sempre revelam algumas lições
Feitas de amores e de corações.


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domingo, 23 de junho de 2019

Rola-mundo















Na onda tudo é certo
no seu jeito inexplicável.
Na onda da lagoa não
há monstro abominável.
Na onda a argamassa
enche a casa habitável.
Na onda o trabalho
não é bem valorizável.
Na onda a borboleta
é lagarta na beleza.
Na onda o tempo passa
com a sua sutileza.
Na onda a rebeldia
não aceita a imposição.
Na onda do satélite
a comunicação.
Na onda a maré
se avoluma e se encolhe.
Na onda do balão, é o gás
que faz com que ele sobe.
Na onda a galáxia
se expande e se move.
Na onda o rico trata
com desdém o lixo pobre.
Na onda o futuro,
mesmo quando planejado,
reserva uma surpresa
no detalhe impensado.
Na onda o diamante
toma a forma de uma joia.
Na onda o vento dança
e depois a chuva molha.
Na onda o mistério
abre a porta ao turista
Na onda a noite longa
tece a trama de uma pista.
Na onda da visita
numa regra a moda dita,
mas na velocidade 
tudo é tarde, nada fica.
Na onda a alma segue
pela estrada do infinito.
Na onda a estrela sonha
o início de outro ciclo.
Na onda que chacoalha
no ouvido o seu guizo
No sono não se ouve
o alerta para um risco.


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