sábado, 29 de outubro de 2016

A rua






















Eu sou um viajante do tempo
e neste momento nada me perturba.
A cada passo, carrego o patrimônio de eras.
mesmo que esquecidas, não saltem elas
do embornal da alma onde tecem vida.
Minhas preciosidades estão ali guardadas,
cada qual numa lição tirada.
Quando ando em direção ao intransponível,
respiro gás dirigível, agradeço à rua, e nada me perturba.
Atrás de toda dificuldade, uma lição me aguarda.
Espreita-me ansiosa e diz: Vem, aprendiz!
Vem andarilho! Vem saber com quantos
paus se faz a caravela que te leva!
Então agradeço por tudo:
Agradeço pelos rochedos,
pelos percalços, pela floresta de medos.
Agradeço pela fortuna mirrada
quando a forme se avizinhava.
Agradeço pelas misérias e insucessos
e por alguma pouca sorte que tenho.
Na roda do engenho de onde a lição é tirada
é que estão os tesouros e, sem que nos apercebamos,
em seu esacaninho guarda-se todo o ouro da jornada.


.


sábado, 8 de outubro de 2016

Vento-silêncio















Abri mão da última palavra,
pois tudo passa.
Rola abaixo dissolvendo fardos
de miséria e de fausto
e nas águas do tempo
perde potência de veneno.
As ofensas agudas
dissipam-se fantasmas
na evaporação da chuva
e a última palavra de revide,
aquela de tenacidade astuta,
agora é silêncio.
Silêncio de quem não se importa
e,em mudez de claustro,
recolhe-se solitário
em irrestrita liberdade,
adentra-se em sua mansão de ar
e dorme pesadamente,
ouvindo a tempestade rolar.
Abri mão de dizer verdades,
de freqüentar tribunas de defesa
ou de tramar fugas covardes.
Flutuando vão as ofensas,
cada qual com a sua crença
e tudo está passando
indiferentemente
feito vento que segue diligente
a algum sítio à frente.